
Imagine só se o pedido que Kafka fez a seu amigo no leito da morte fosse atendido? Ele pediu, pouco antes de morrer, que todos os seus livros fossem queimados e não publicados. Se isso tivesse acontecido, não conheceríamos o seu personagem principal, Gregor Samsa, que, após uma noite de sonhos intranquilos, acorda metamorfoseado em uma barata. Será? Acho que, mesmo que Gregor tivesse sido incinerado, ele não desapareceria: estaria escondido no inconsciente dos leitores que se incomodam com a existência humana.
Foi pensando no inconsciente que, por coincidência (ato falho do meu inconsciente?), li “Esaú e Jacó”, de Machado de Assis enquanto assistia à série “O Alienista”, na Netflix. Apesar de terem o mesmo título, a série de TV não é inspirada no famoso conto de Machado. Mas ambas abordam um alienista (médico especialista em doenças mentais) e os subterrâneos do inconsciente. O ator alemão-espanhol Daniel Brühl, que dá um show falando em francês em “Bastardos Inglórios”, faz o papel do médico com um convincente e fluente sotaque americano.
As duas temporadas de “O Alienista” exploram humanos-baratas, que assassinam com violência adolescentes (primeira temporada) e bebês (segunda temporada). Daniel Brühl, muito bom na primeira temporada, perde o protagonismo para Dakota Fanning na segunda. Mas, em tempos de pandemia em que precisamos andar com máscaras para mantermos a vida, “O Alienista” esta aí para nos mostrar que, por trás de uma barata nojenta, se disfarça um humano do bem, como você e eu.
English – Just imagine if Kafka’s last request to his friend was granted? He asked, just before he died, that all his books be burned down and not published. If this had happened, we would not have known his main character, Gregor Samsa, who, after a night of uneasy dreams, wakes up metamorphosed into a cockroach. Maybe. I think that, even if Gregor had been incinerated, he would not disappear: he would be hiding in the unconscious of readers who are bothered by human existence.
I was thinking about the unconscious when, coincidentally (a Freudian slip?), I read the novel “Esau and Jacob”, by Machado de Assis, while I watched the series “The Alienist”, on Netflix. Despite having the same title, the TV series is not inspired by Machado’s famous short story. But both approach an alienist (a doctor specializing in mental illness) and the subterranean of the unconscious. German-Spanish actor Daniel Brühl, who has a great performance speaking in French in “Inglorious Basterds”, plays the doctor with a convincing and fluent American accent.
The two seasons of “The Alienist” exploit human-cockroaches, who violently murder teenagers (first season) and babies (second season). Daniel Brühl, very good in the first season, loses the lead to Dakota Fanning in the second one. However, in times of pandemic when we need to wear masks to remain alive, “The Alienist” shows us that, behind a disgusting cockroach, lies a good human being, like you and me.
Anderson, como sempre seus comentários são tão instigantes que a gente já quer pular no sofá prá ver o que vc falou. Bjão
CurtirCurtido por 1 pessoa
Cris, que maravilha. Me diga o que achou, depois do seu pulo no sofá. Beijinhos!
CurtirCurtir