
A infância é o futuro de uma nação. A infância, no Brasil, está em crise. O futuro, ameaçado. Esta é a mensagem do mais recente livro do premiado autor pernambucano Raimundo Carrero. Termino agora de ler “Estão Matando Os Meninos” e carregarei comigo um nó no estômago pelas longas horas e dias que cabem neste domingo de dezembro.
O livro é curto, mas em suas breves 126 páginas cabem histórias de crianças que vivem na periferia de Pernambuco, que é a periferia do Brasil, que é a periferia do mundo. Meninos e meninas que, antes de serem mortos, deixam um começo de vida, com sonhos, com pais e irmãos, com amigos e na escola. São vítimas de tiros e de crimes cotidianos, cometidos por policiais, traficantes e milicianos: agentes que manipulam armas com dedos que puxam o mesmo gatilho.
Se Natal é nascimento, a infância na enorme periferia brasileira é uma Páscoa que crucifica vidas que mal aprenderam a andar, a falar, a ler. “Estão Matando os Meninos” é uma leitura que precisa ser levada para além do silencioso parágrafo da iminente “Noite Feliz”.
English – Childhood is the future of a nation. Childhood in Brazil is in crisis. The future is threatened. This is the message of the latest book by the award-winning author from Pernambuco Raimundo Carrero. I have just finished reading “Estão Matando Os Meninos” (“They are killing boys”) and I will carry a knot in my stomach for the long hours and days of this Sunday in December.
The book is short, but on its brief 126 pages there are stories of children living on the outskirts of Pernambuco, which is on the outskirts of Brazil, which is on the outskirts of the world. Boys and girls who, before being killed, leave behind the beginning of their lives, with dreams, with parents and siblings, with friends and at school. They are victims of gunshots and everyday crimes, committed by the police, drug dealers and militiamen: agents who manipulate guns with fingers that pull the same trigger.
If Christmas is birth, childhood, on the vast Brazilian outskirts, is an Easter that crucifies lives that barely learned to walk, to speak and to read. “Estão Matando Os Meninos” is a book that needs to be taken beyond the silent paragraph of the impending “Silent Night”.
Por um lado, triste saber que ainda existam histórias como estas pois Jorge Amado já havia escrito “Capitães de Areia” em 37. Victor Hugo “Os Miseráveis” quase um século antes.
Por outro, é bom saber que existam pessoas sensíveis e cultas o bastante para registrar que este absurdo da exploração e da miséria humanas ainda persiste.
CurtirCurtido por 1 pessoa
Interessante a sua comparação do livro do Raimundo Carrero com o “Capitães da Areia” e com “Os Miseráveis”. A ironia é que o Capitão da Areia hoje, no Brasil, é o Presidente. O povo, somos um bando de órfãos miseráveis.
CurtirCurtir
Discordo.
Não consigo ver em que medida um bando de meninos carentes, pobres e abandonados pode ser comparado à famiglia miliciana que usurpou o poder em Brasília…
Os sentimentos deles – dos meninos – são una reação à sociedade que os abandonou e repudia. Tanto que – para demonstrar a carência deles, tem a história do menino coxo que é adotado por uma família e que, entre o ficar e o roubar, acaba decidindo-se por levar pertences da família que o acolheu pq o grupo acabou sendo mais significativo, com certeza por questões de identidade.
Já a famiglia, rouba o Brasil sem ter esta dúvida na consciência.
CurtirCurtido por 1 pessoa
Os meninos, no livro do Raimundo Carrero e no romance do Jorge Amado, são todos vítimas do descaso de governos da sua época: o do Getúlio Vargas e o do Bolsonaro. Em “Capitães da Areia”, os meninos são comparados a baratas e ratos, mas não são assassinados. No Raimundo Carrero, a morte é mais atroz, pois o governo é muito mais cruel.
CurtirCurtir
Apesar de sua explicação, não consigo entender porque o Bolsonaro seria o capitão de areia
CurtirCurtido por 1 pessoa
Foi só um trocadilho porque o Bolsonaro é um Capitão reformado do exército.
CurtirCurtir