
Quentin Tarantino é o meu diretor de cinema favorito. Seus filmes são um diálogo permanente com a cultura pop, com a cultura clássica e com o próprio cinema. Adoro assistir, mas, mais do assistir, eu gosto mesmo é de rever os seus filmes.
Na última semana decidi fazer uma maratona tarantinesca. Assisti na sequência todos os filmes dele disponíveis na Netflix e na Amazon Prime. Vistos em série, fica mais fácil perceber como um filme conversa com o outro, é possível enxergar o fio transparente com que Tarantino costura as histórias. Personagens, nomes e objetos saem de um e visitam outros filmes tarantinescos, recheados com uma violência bem-humorada e sempre com uma trilha sonora deliciosa.
Em seus filmes, há sempre uma crítica social e uma crítica psicológica, na qual Tarantino costuma dar voz a minorias e tenta “corrigir” a História, assumindo uma culpa social e oferecendo alguma redenção. Em “Bastardos Inglórios”, os judeus, dentro do cinema, derrotam o nazismo. Em “Kill Bill” e em “À Prova de Morte”, a mulher se impõe a séculos de machismo. Em “Django”, o negro escravizado fecha o punho e afirma que “Black Lives Matter”.
No entanto, de todos os filmes do meu diretor favorito, o meu favorito é “Pulp Fiction”. A chave para entendê-lo está no subtítulo da tradução para o português no Brasil: “Tempo de Violência”. O tempo é o condutor das três histórias dentro do filme. Um relógio que passa de geração em geração por um século. O grande astro do cinema na década de 1970 (John Travolta) derrotado pelo grande astro do cinema na década de 1980 (Bruce Willis) dentro do filme feito nos anos 1990. A garota mimada que cresce sob a música “Girl, you will be a woman soon”. Relógios e mais relógios espalhados nas paredes em cenas regadas a violência e suspense comprimem a tensão do espectador em minutos que nos prendem à poltrona. E, ao chegar ao fim do filme, eu volto a ser criança e sempre tenho vontade de assistir a tudo de novo.
Sim, Tarantino é meu cineasta favorito. Deste e de outros tempos.
English – Quentin Tarantino is my favorite movie director. His films are a permanent dialog between pop culture, classic culture and cinema itself. I love to watch them, but, more than watching, I really like to rewatch his movies.
Last week I indulged myself in binge watching Tarantino. I saw all of his films available on Netflix and Amazon Prime. When watched in a sequence, it becomes easier to realize how one film talks to another, and it is possible to see the transparent thread which Tarantino uses to sew his plots. Same characters, names and objects invade and visit his movies, filled with good-natured violence and a delicious soundtrack.
In his films, there is always a social criticism and a psychological criticism, in which Tarantino usually gives voice to minorities and tries to “correct” History, admitting a social guilt and providing some redemption. In “Inglorious Basterds”, the Jews, within the cinema, defeat Nazism. In “Kill Bill” and in “Death Proof”, women impose themselves over centuries of sexism. In “Django”, the enslaved blacks clench their fists and claim that “Black Lives Matter”.
However, of all my favorite director’s movies, my favorite one is “Pulp Fiction”. The key to understanding it is in the title of it in the Brazilian Portuguese translation: “Time of Violence” (“Tempo de Violência”). Time is the driver of the three stories within the film. A watch that passes down from generation to generation for a century. The great movie star in the 1970s (John Travolta) defeated by the big movie star in the 1980s (Bruce Willis) within a movie made in the 1990s. The spoiled girl who grows up under the song “Girl, you`ll be a woman soon”. Clocks and more clocks scattered on the walls in scenes watered with violence and suspense compress the viewer’s tension in minutes that tie us down to the armchair. And when I get to the end of the film, Iike a child, I always feel like watching it all over again.
Yes, Tarantino is my favorite moviemaker. From this and other times.
Adorei os pontos de vista expostos, Andy: reflexões para além da superfície, sintetizadas e amarradas com excelência. Mas devo dizer que ansiava, à medida que avançava linha a linha, sorver algo a respeito de “Reservoir Dogs”, que rivaliza com “Pulp Fiction” por minha preferência. É que representa a gênese de tudo.
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Tem razão, Edu. “Cães de Aluguel’ é a origem e entra como uma luva no comentário. É que não encontrei “Reservoir Dogs” na Netflix, nem na Amazon Prime. Estou com muita vontade de revê-lo.
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Obrigado pelo texto e pela ideia de rever todos esses filmes, Anderson! Ele também é meu cineasta favorito, por todas as razões que você bem elencou.
Aliás, nossa dança de casamento foi uma releitura de Travolta e Thurman dançando “You never can tell” em “Pulp Fiction”.
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Legal, Rodrigão. Eu vi o vídeo do seu casamento e a dança do casal apaixonado. Só faltou a overdose (ou não?).
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Com certeza o meu diretor preferido também!
A forma com que ele trabalha a simbologia e a semiótica dentro e através dos seus filmes realmente é mais do que incrível! Amei Costa!
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É verdade, Pri: a riqueza semiótica do Tarantino é resultado de múltiplas linguagens que ele emprega em seus filmes.
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Adorei a análise, nunca pensei sobre a questão do tempo em “Pulp fiction”.
Um outro filme dele que cabe bem nessa análise seria “Once upon a time in Hollywood”, em relação à “correção” da história.
Recentemente assisti “A prova de morte”, muito bom.
O único componente que acho essencial ter mencionado seria a presença de pés descalços, e além de um fetish do Tarantino, se isso teria algum significado maior dentro da narrativa.
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Maravilha, Matheus. “Once upon a time in Hollywood” é ótimo!
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Até um tiro no saco do outro, ele consegue fazer do jeito que nós queríamos as vezes. Kkkkkkk
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Cena típica do humor doído (doido) do Tarantino.
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Ah, Anderson, querido… como parceira cinéfila, concordo com você: Tarantino também é um dos meus favoritos! Lembro-me de ter assistido a uma entrevista com Michael Fassbender, depois de ter atuado em “Inglorious Bastards” (Bastardos Inglórios) na qual ele dizia que estava participando de uma das coletivas sobre a produção. Sentava-se logo atrás de Tarantino, olhando diretamente pelas suas costas, e pensava: “como pode caber tanta informação dentro dessa cabeça?” É assim que eu sinto: com relação a ele (Tarantino) e a Clint Eastwood! Este último, dos cineastas vivos, é igualmente um ícone para mim… Beijos e sucesso!
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Sim, Alê: Tarantino e Clint Eastwood são dois gigantes.
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SOU mais STEVEN SPIELBERG ( IMPÉRIO do SOL ,A COR PURPÚRA , TUBARÃO , ET ) e FRANCIS FOR COPOLA com PATTON ; TETRO e o PODEROSO CHEFÃO . PARABÉNS continue gostei de LER .
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Ótimo elenco de filmes que você colocou aqui. Abração!
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Mr Costa, sua análise da questão do tempo e a distinção dos relógios no filme “Pulp Fiction” me lembrou de quantos detalhes nós perdemos se assistimos filmes apenas uma vez, especialmente os clássicos de Tarantino. Duas, três ou até quatro visualizações podem ser necessárias para entendermos o universo que o diretor criou durante anos, e acho que assim conseguimos apreciar ainda mais o filme. Adorei também seu análise das críticas sociais presentes nos filmes, que mesmo vindo de filmes antigos ainda aplicam no ano de 2020.
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Legal que curtiu, Daniel. Acho que os filmes do Tarantino se enriquecem nos detalhes. Vale a pena assisti-los algumas vezes. Abração!
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