“Expresso do Amanhã” (“Snowpiercer”): Uma Série que custa o ingresso para dentro de um trem

Watch Snowpiercer | Prime Video

Acabo de assistir na Netflix à primeira (e, por enquanto, única) temporada da série “Expresso do Amanhã” (no original, “Snowpiercer”). Trata-se de uma série cujo título em português já aponta para o tempo e para o espaço. “Expresso” remete à rapidez; “Amanhã”, ao futuro. O futuro tem pressa e caminha em alta velocidade contra o tempo. É uma distopia, na qual os únicos sobreviventes de um planeta Terra congelado e inabitável vivem em um trem, que não para de dar voltas (revoluções) ao redor do planeta, sobre trilhos escondidos sob a incessante neve. A palavra “revoluções”, com seu sentido geográfico e político, ganha força no simbolismo do trem. O cenário externo totalmente branco contrasta com as cores e os dramas vividos dentro do trem: 1.001 carros habitados por primeira, segunda e terceira classes, além da parte traseira do trem (clandestinos, que tentam ter acesso às outras classes do trem). 

É uma metáfora para uma sociedade desigual, na qual pobres servem os mais privilegiados, onde há fome, violência, riqueza e miséria. E muita disputa de poder. Baseado no longa homônimo (dirigido pelo sul-coreano Bong Joon Ho, de “Parasita”), a série conta com um bom e multitalentoso elenco ( o rapper Daveed Diggs, a cantora Lena Hall e a modelo Annalise Basso). Assistir a “Expresso do Amanhã” é descobrir-se passageiro de um trem prestes a descarrilar. Vale evocar a música da Legião Urbana: “Que país é esse?”. A segunda temporada promete.

Publicado por Anderson Borges Costa

Anderson Borges Costa, brasileiro, é autor dos romances “Rua Direita” (Chiado, 2013), “Avenida Paulista, 22″ (Giostri, 2019) e do livro de contos “O Livro que não Escrevi” (Giostri, 2016 – do qual, um dos contos foi traduzido para o inglês no Canadá), além das peças teatrais “Quarto Feito de Cinzas” (traduzida para o italiano para ser apresentada na Itália), “Elevador para o Paraíso” e “Três por Quarto”. Premiado no Prêmio Guarulhos de Literatura (categorias Livro do Ano e Escritor do Ano) e no Concurso Literário do Instituto Federal São Paulo. É coordenador do Departamento de Português da escola internacional Saint Nicholas, em São Paulo, onde também atua como professor de Português e de Literatura Brasileira. É professor de Inglês no curso Cel Lep. Formado e pós-graduado pela Universidade de São Paulo em Letras (Português, Inglês e Alemão), é crítico literário e resenhista de livros para várias revistas de arte e literatura, como a “Germina”, onde assina a coluna “Adrenalina nas Entrelinhas”. É paulistano e nasceu em 29 de janeiro de 1965. Participou do último filme da diretora Anna Muylaert, “Mãe só há uma”, fazendo uma figuração como o professor de literatura do protagonista.

5 comentários em ““Expresso do Amanhã” (“Snowpiercer”): Uma Série que custa o ingresso para dentro de um trem

  1. Perfeito, Andy! E humildemente acrescentaria que o caos congelante desesperadamente branco que o mundo se tornou também representa uma metáfora, ou mesmo uma predição, da emergência climática que vivemos.

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  2. Gosto muito da maneira com que você vai traçando um paralelo entre as letras de Cazuza e o cenário atual. É uma comprovação “científica” da atualidade dele. Parabéns!

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